segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Concerto do Desconcerto



Dia 04 de setembro, sábado passado, eu fui a um concerto no Convento de São Francisco ( Olinda -PE), de Leonardo Altino(violoncelo/filho) e Ana Lúcia Altino (piano/mãe).

Chegando ao convento, construído no século XVII (17), sentei e comecei a observar o interior daquele templo, as imagens gravadas nas paredes, no teto, no altar, tudo na mais perfeita harmonia de cores e detalhes visivelmente feitos por mãos engenhosas.

 As paredes bem grossas mostravam-se resistentes, persuasivamente inabaláveis; o teto altíssimo mostrava o seu poder, a sua grandiosidade; as pinturas, as obras feitas em paredes e teto nus motravam sua riqueza, o domínio do ouro, a imaginação humana dos acontecimentos, a capacidade de expressão em toques 'plásticos' e suaves de arte. Um conjunto de elementos religiosos que mostrava todo o poder que a Igreja tinha e tem sobre os fiéis, uma riqueza que jamais estes poderiam ter,  imponência visível do início ao fim. E eu pensei, pra quê toda essa suntuosidade se o que eles dizem 'pregar' é a simplicidade?  Se Jesus Cristo  precisava apenas de ouvidos alertas porque eles precisam de grandes e ricos templos? Respostas que todos nós deveríamos procurar, pois nós causamos tais perguntas.

Meus pensamentos foram interrompidos momentâneamente pela entrada dos músicos. Sentaram-se uma mulher ao piano e um homem acompanhado por seu violoncelo. Com maestria uma música foi lançada ao ar, desejando ser agarrada por qualquer ou quaisquer pensamentos. O meu se apressou e logo a agarrou. 

Aquela música era realmente "música para os meus ouvidos", logo na primeira nota fechei os olhos e recordei o  pouco tempo que bailei músicas semelhantes àquela quando pequena, e pude me imaginar agora, dançando graciosamente pelos ares, rodeada por verdes pastagens, com borboletas em volta, flores a desabrochar, como desde o princípio vi em filmes. Mas um comentário me despertou para algo que não sei se realmente queria saber. Havia alguém bem próximo a mim, em todos os sentidos, que não podia sentir a sensação que eu sentia, pois não conseguia ouvir nitidamente a música que me fazia feliz aquele momento. 

Foi um golpe majestoso saber que eu estava dançando alegremente em verdes pastagens, enquanto alguém esperava a tal apresentação começar, porém já havia começado há algum tempo. Minha prantina começada com deleite, teve um pico de desprazer. Mas minha imaginação foi mais longe, me veio a imagem de uma bailarina em cima de um palco, com uma luz central que permitia a visão de sombras dos lindos gestos corporais daquela moça. 

Eu era aquela moça, porém não era a protagonista daquele sonho. A protagonista estava na platéia, uma platéia especial , onde só uma senhora de cabelos já brancos, fisionomia agradável e  com um sorriso amabilíssimo no rosto estava. Tudo aquilo era pra ela, só pra ela, onde nota por nota podia ser ouvida, gesto por gesto podia ser corretamente interpretado, felicidade por felicidade podia ser sentida.

Pensamentos interrompidos por uma séries de aplausos, a música terminou no mundo real, mas em mim continua a tocar. Aquele era o concerto do desconcerto. Eu pude por alguns, porém belos instantes concertar as coisas como eu queria. Todo aquele pensamento sobre ora ambição, ora limitação humana tinha dado lugar a uma linda imaginação. E eu procurei guardar as feições daqueles músicos que me permitiram ouvir a melhor canção que já ouvira.


P.S.
Espero que tenha apreciado tanto quanto eu tive a oportunidade de apreciar o meu dividir com você desse meu dócil momento.

Com prazer, Cássia Iasmin

3 comentários:

Kezia Lima disse...

Uau! Incrível descrição, me senti no concerto (rsrs). Teu questionamento à respeito da ostentação de riqueza da igreja é bem pertinente, até porque é consequente de uma contraditoriedade tremenda, como você mesma coloca.
A descrição do teu momento vivido me fez lembrar uma situação bem parecida que eu passei há uns dias atrás... Fui assistir a um seminário e na abertura havia umas apresentações musicais que me fizeram regredir anos da minha vida na minha imaginação, na saudade... que me fizeram recordar o quanto a música me fazia (e faz) bem... mas derrepente a gente acorda (a apresentação termina) e fica só a lembrança (ainda bem que temos ao menos elas!).

P.S.: Menina, como tu escreve bem! Serei tua leitora frequentemente por aqui. Parabéns =)

Kelsenskiter disse...

Você foi longe nos seus pensamentos =) essa é a magia da arte, da música, despertar novos mundos em cada um! Parabéns pelo texto! Bem escrito e construindo!
Não arregue não, muita gente faz blogs e depois deixa de lado, persista. Aqui é um espaço massa p/ descarregar o estresse e pensamentos.

Bjooo!

L disse...

sempre soube que você tinha potencial pra escritora cacau *-*
bela descrição, fiquei imaginando, não sei quanto a música, mas se ela teve a capacidade de tirar a sua atenção de um templo como esse e de um questionamento tão sério, ela devia ser realmente boa (:

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